6 meses de kitanda

Caros Amigos.....

Os ingredientes mineiros são um presente para os cozinheiros brasileiros e os estrangeiros que por aqui passam. Minas é um estado, que como todo bom mineiro, é gentil, hospitaleiro, não tem medo de somar seus conhecimentos com os vizinhos e por isso a culinária mineira é tão rica.

No norte do estado temos o "Velho Chico", que majestoso abastece as cidades ribeirinhas com seus peixes e ganhou de presente da sua vizinha Bahia, o coentro, o dendê, a farinha e consequentemente nasceu uma bela peixada com pirão.

No centro do estado temos as cidades históricas que tem uma alimentação de terreiro, o nosso terroir, galinha, porco, verduras e legumes variados. Receitas que subiram a serra junto com os tropeiros que buscavam ouro. Penso que nós, em Gonçalves, temos uma identificação com os tropeiros, nós também subimos a serra e achamos o ouro, só que ao contrário deles não queremos levar essa riqueza embora. Queremos preserva-la e isso significa valorizar as raizes, as comidas feitas pelas velhas e velhos cozinheiros da cidade, receitas esquecidas na memória e que estão sendo resgatadas na Kitanda Brasil.

No Sul do estado temos a mandioca e o milho. A mandioca servida do café da manhã à sobremesa. Cozida e servida quente com manteiga derretendo e sal ou servida cozida com melado acompanhada de um café de coador; em forma de pães, bolos, polvilho......e o milho, que também tem seu papel importante.

Queijos garantidos pelos maiores fabricantes europeus são produzidos em Minas, na região do Serro e da Canastra. Queijos produzidos com leite cru e hoje tombados como patrimônio imaterial do Brasil. Isso é uma conquista.

No triângulo, a caminho da capital federal, temos o perfume do pequi, fruto que exige delicadeza para ser comido e esse nos foi presenteado por nosso vizinho Goiás.

Aqui no restaurante estamos resgatando esses sabores. Os pratos servidos são pratos testados e apresentados em festivais que fiz pelo país e receitas de amigos que fiz nessa caminhada e que me presentearam.

Do Mocotó, do meu querido Rodrigo, saiu o mousse de chocolate com cachaça, que claro eu transformei....nunca fui de seguir receitas.... e o sirvo sem cachaça, que é colocada no chantily e para aerar o chocolate (branco e amargo) eu acrescento o mascarpone.....um italianinho feito em minas.

Da elaboração dos pratos agridoces, que são uma de minhas especialidades, por ter desenvolvido geléias durante anos, nasceram "acepipes", "tapas" ou "guloseimas", como gosto de chamar. Nasceram castanhas caramelizadas, nasceram pralines, nasceram bolinhos com chutneys, enfim nasceram alguns filhos que hoje tenho orgulho em ver crescendo com outras mães.

Toda essa história para dizer que a kitanda está completando 6 meses e precocemente essa criança começa a equilibrar-se sobre duas pernas e seguirá a tradição de seus antepassados, sem desvalorizar a tecnologia e as novas descobertas gastronômicas.

Aqui estamos sempre recebendo os amigos com comidas que falam ao coração. O uso de ingredientes brasileiros e "abrasileirados" nos leva de volta ao armário da avó, ao livro de receitas do amigo, ao cardápio de alguém que admiramos e queremos fazer uma homenagem usando um prato seu. Enfim......é tempo de troca, tempo de presentear e aceitar os presentes que a vida nos dá.

3 comentários:

  1. Parabéns, Tanea

    Por "acaso", encontrei você. Adorei sua iniciativa. Preservar a memória do paladar é preservar o corpo e a alma de um povo.
    Parabéns, mais uma vez. Vida longa à Kitanda.

    Um abraço

    Laura

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  2. Laura,

    Super obrigada. A semente foi plantada pela gente da terra e agora nós vamos colher juntos.
    Vou começar a dar um curso, em Gonçalves, para as merendeiras e agentes de saúde e o foco principal vai ser a comida do terreiro, nosso "terroir", e eles vão voltar a se orgulhar do que os antepassados comiam.

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  3. Tanea,

    Fico feliz em saber que seu projeto dá frutos. Fiquei com vontade de conhecer sua Kitanda e seus kitutes. Quem sabe um fim de semana pego um ônibus rumo a Gonçalves. Acho que vou gostar, sou caipira e adoro cheiro de terra molhada, panela fumegando no fogão, mesa
    posta e gente boa.
    Um abraço
    Laura

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