Navegando.....ainda......

O grande desafio do jantar começou no momento em que o Ilan Brenman me passou o tema da "degustação de histórias" que iríamos fazer em pleno Rio Negro, no Amazonas. Isso foi no início de fevereiro e o evento aconteceria em maio.
"Contos Gregos"......e aí meu coração disparou.....UAU!!!! "contos gregos" em plena amazônia, com aquela variedade de ingredientes para "amores possíveis e impossíveis", "contos eróticos", "contos indígenas", "contos brasileiros".....e aí senti a sintonia que está sendo trabalhar com esse grande escritor e contador de histórias.
Depois de algumas horas pensando no tema, com alguns livros sobre a mesa, namorando a prateleira de ingredientes.....veio a idéia...."contos gregos com ingredientes amazônicos"....."cozinha grega mas preparada com peixes de rio, com farinhas de mandioca no lugar da semola, iogurte de búfala, pesto de jambu.....dentro de um navio com a estrutura já montada, em que tudo teria que ser planejado sem falhas, fichas técnicas, lista de ingredientes, tempos, processos. Não dava pra pegar uma bicicleta e buscar o ingrediente na esquina. E nesse instante começou minha viagem.....comecei a navegar pelo Rio Negro, pelo Amazonas e pelos ingredientes.
O primeiro prato pensado foi um charutinho de folha de uva e o que poderia ser substituído nesse prato para representar a amazônia e aí veio a idéia da folha de mandioca. A primeira pessoa que pensei foi na minha amiga, Neide Rigo, para me dizer se eu poderia servir a folha de mandioca. Mandei um e-mail e ela estava à caminho da África e ia falar exatamente sobre mandioca. Liberado.....eu poderia usar a folha da mandioca mansa.
Como moro em Gonçalves corri para o meu "terreiro" (meu terroir) e colhi algumas folhas. Branqueei, coloquei em uma marinada com limão, azeite e sal, enquanto preparava o arroz com castanhas do pará, do recheio.
As folhas ficaram marinando por meia hora e os charutinhos foram enrolados.
Coloquei-os em uma assadeira, com azeite, tomates, limão e levei ao forno.
Após 25 minutos o resultado eram charutinhos com a mesma textura da folha de uva, super saborosos e bem brasileiros.
A segunda opção foi um peixe, ainda na entrada, e o tucunaré foi o peixe escolhido. Carne branca, macia, uma textura ótima.
Mas tinha que pensar nas opções vegetarianas, afinal era um barco com 80 passageiros e com certeza teríamos vegetarianos e aí nasceu um escabeche de graviola.....carne branca como o tucunaré.
Depois vieram as almôndegas de pirarucu com hortelã e as de pão (para os vegetarianos) e tava sendo criado o jantar.
O melhor de tudo foi ver a equipe do navio recebendo uma "estrangeira" em sua cozinha, mexendo em suas panelas, usando suas facas, ocupando seus espaços mas felizes por estar compartilhando ingredientes que fizeram parte de suas histórias e orgulhando-se de mostar os ingredientes que fazem parte das suas vidas. Mais uma vez a linguagem da cozinha mesclando culturas e unindo pessoas.

escabeche de tucunaré

escabeche de graviola

Ilan Brenman e Tanea Romão

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