Um almoço, mais que especial......


Adoro estar com amigos mas ultimamente tenho tido pouco tempo para eles.  Muito trabalho, novos projetos, o restaurante que exige minha presença, o lançamento dos produtos.  Sei que eles entendem o momento e quando nos encontramos eles sempre tem presentes para mim.  Acho que é para que eu não me esqueça nunca que eles existem.
Não tem como esquece-los, são todos muito especiais.  Geralmente me presenteiam com comidas e aí, cada vez que vou cozinhar eu trago um deles para junto de mim.
Hoje, eu trouxe vários.  Foi um almoço especial, foi como estar preparada para ceiar sozinha e de repente a casa começou a se encher e todos tiveram um lugar especial na mesa.  Amigos que não se conhecem pessoalmente mas que se conhecem de tanto me ouvir falar.
Me dei essa tarde de quinta feira, chuvosa, de presente.  Trabalhei muito durante o carnaval e tinha prometido que hoje eu iria cozinhar com os presentes que ganhei dos meus "novos" amigos, do sítio Gralha Azul, em Santo Antonio do Pinhal.  Tinha "feijão do divino",  "pimentas completamente amarelas" e cerveja feita por eles.
Comecei pelas pimentas, que fiz assadas.....lavei-as, sequei bem, preservei os cabos que estavam firme e davam a elas cara de pimentas.....o passo seguinte foi lavar os tomates cereja, da roça do Tiana, aqui de Gonçalves e seca-los bem.  Para esse assado não se pode ter umidade, precisamos somente dos caldos que serão liberados durante o cozimento.  Forno já ligado há 15 minutos, para ficar bem quente.
Um refratário, tomates no fundo, pimentas em cima, hortelã, alecrim, tomilho limão, sal grosso e muuuuiiiiiito azeite.  Eu tenho muita sorte em ter os amigos que tenho e peguei um vidro de azeite que foi extraido aqui na mantiqueira, em São Bento do Sapucaí, e que eu ganhei um vidro do primeiro lote, o azeite "Coimbra da Mantiqueira", com sabor intenso, com personalidade marcante e que eu guardo a sete chaves, para ocasiões muito especiais e essa era uma.

Forno bem quente e aí vai o preparado......40 minutos de forno e temos tomates delicadamente assados e pimentas em todo o seu esplendor.



Agora chegou a hora dos feijões.......Eles já estavam escolhidos, era só lava-los e para o preparo, separei cebolas brancas e roxas, cortadas em cubos médios, pimentões vermelhos, berinjelas, sal com pimenta rosa "kitanda brasil",  e o aroma do oriente começou a penetrar na minha cozinha.......quando me lembrei de um óleo que há tempos eu não usava e que gosto muito do perfume.....óleo de gergelim cru, prensado a frio, extra virgem.  Um óleo que me foi apresentado por uma amiga muito especial e querida.


Coloquei o óleo na panela quente e o seu perfume me transportou para um tempo que já não existe mais, mas que ficou marcado de tal forma que senti meus músculos do rosto movimentarem-se e me fazer esboçar um largo sorriso.
Ao óleo quente eu acrescentei as cebolas, o pimentão vermelho e os feijões do divino, que trazem em sua pele o desenho do sagrado.  Aquele perfume invadiu o ar e me fez ver que em cada célula do meu corpo está gravada uma lembrança, um momento, um amigo, uma emoção.  Cada lembrança me pedia mais um tempero e lembrei-me do hortelã seco, que veio da turquia e que era a combinação perfeita para aquele prato das "mil e uma noites", presente da minha querida amiga cozinheira, a Márcia Micheli, que a cada viajem divide comigo os seus achados e dessa vez me trouxe especiarias incríveis.  O hortelã seco pediu a companhia do sumac, de um bordô intenso e eu pude sentir o seu gosto no fundo da minha garganta.
Cozinhei sem pressão, obedecendo o tempo do grão, a berijela foi perdendo a textura e dando cor ao caldo e os feijões permaneciam inteiros, cozinhando no seu ritmo, incorporando os sabores.
Uma hora depois os feijões estavam cozidos, inteiros, delicados ao toque, cedendo ao garfo e liberando sua textura amanteigada.
Mesa posta.....um "jogo brasileiro", porque é um jogo americano de chita, também presente.  Presente em todos os sentidos......fui procurar o significado da palavra e achei "presente....aquilo que se oferece de forma gratuita a alguém" e pensei que a presença é um presente e o presente é a presença de quem nos ofertou.
Em um prato, pão de berinjela da Dna Rosa, que ganhei da Guta, no sábado na feira de Orgânicos, as pimentas assadas com os tomates e no outro os feijões.
Uma taça da cerveja mais delicada que provei nos últimos tempos e amigos reunidos na lembrança, fazendo-se presentes através dos mimos, das delicadezas e desse amor infinito.


Bom apetite!!!!!!







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